Sendo o meu regresso para a linda aldeia de Banguad, ainda muito radical, idealizei uma solução intermédia. Viver em, e de um meio mais rural em Portugal. O regresso à agricultura é algo incentivado, e os terrenos por tratar são uma realidade que evita um investimento na aquisição da terra. A minha luta é a, de uma forma subsistente, transitar do escritório para a lavoura mantendo um futuro financeiro e lúdico atrativo. E ao mesmo tempo, porque não, mostrar uma resposta a tantas almas que vejo partilharem do mesmo sofrimento sem terem, aparentemente, uma solução à vista. Lá vem a minha ideia romântica de comunidade, de dar uma resposta aos problemas do país, do conforto da natureza, da qualidade de vida e felicidade, apenas por mudar a mentalidade, por uma ideia e na forma de arranjar meios de a levar para a frente. Daí a ideia de trabalhar esses terrenos, de produzir algo de valioso (hoje em dia, o que a natureza nos oferece sem ser alterada para acompanhar o tal comboio desalmado, é extremamente valioso) e de o tornar sustentável financeiramente.
Surgiu um olival a cerca de hora e meia das minhas habituais paragens. Sendo a produção de azeite um desejo antigo, e que não exige grandes cuidados, entusiasmei-me. Consequente, o dono do terreno, emigrante que lhe custa ver as oliveiras que os seus antepassados cuidaram, ao abandono, também. Falta-me o conhecimento, mas a vontade é tudo e a extração do conhecimento desta gente genuína que aprendeu com o vento, com o recortado das folhas, um prazer. E a sua vontade de transmitir recíproca. Como a Maria diria, "junta-se a fome à vontade de comer".
Nos últimos dias da minha avó, sentia que com ela, ia morrer muito conhecimento da terra que não fui capaz de extrair, e que as gentes de agora já não dão valor. Aliás, a falta de consideração pelos velhos assusta-me. (A autodestruição (in)consciente tal como fazemos com o planeta, ignoramos o que iremos ser) Pois para mim, o conhecimento é tempo, seja ele passado como fôr. Até um bêbado sabe muito da sua ciência.
Estou num comboio, dos melhores sítios para escrever, e aprecio a beleza deste país que merece mais.
Venho de um fim-de-semana passado na casa de um colega de trabalho cuja família também produz azeite. Tentei aprender o máximo que pude. O pai, mantém uma posição num serviço municipalizado, é capaz de construir uma casa de qualidade, trabalhador do campo e orgulhoso das suas árvores. Mantém o brilho dos olhos de um jovem. Fez-me lembrar dos homens "faz-tudo" de Almviks. A senhora, uma mulher à antiga que cozinha, mantém a casa perfeita, o jardim e a horta. Não se cansou de me dar. Só me consegui defender das suas infinitas ofertas justificando-me com a minha barriga (que está a crescer). Casal simples, humilde e trabalhador que não foi afortunado na saúde dos filhos. A filha em cadeira de rodas e com uma certa limitação nervosa e o filho mantendo uma deficiência nas pernas que não o permite andar equilibrado. A senhora dizia: "Deus quis assim". Mas com a ajuda da terra e a humildade perante a Natureza avançam sem se notarem dificuldades financeiras.
Voltei-me a sentir tão querido como se na Tailândia estivesse, com a diferença de não haver crianças. Em vez de arrozais, montes cobertos das giestas amarelas, mas a mesma simplicidade. Uma generosidade à qual não soube responder. Esta gente do interior chegou-me ao coração e deixo-os com o sentimento que aprendi muito mais para além da olivicultura.
The six months in Lisbon are done. I see a lot of people, empty people walking too distracted trying to earn money by impressing somehow. People who try to follow suffocatingly a fierce and heartless train. Untouchable people. I've seen enough.
Being my return to the beautiful village of Banguad still too radical, I got an intermediate solution. Live in, and from a more rural place in Portugal . The return to agriculture is supported, and the untreated plots are a reality that avoids an investment in land acquisition. My struggle is, of a sustainable way, move from the office to the plowing keeping an playful and financial future attractive. And at the same time, why not to give an answer to the many souls I see sharing the same suffering without, apparently, having a solution in sight. Here comes my romantic idea of community, to respond to the problems of the country, the comfort of the nature, life quality and happiness, just by changing the mentality, through an idea and how to get the means to carry it on . Hence the idea of working such land, to produce something valuable ( today, what nature offers us without being changed to keep up with the heartless train, is extremely valuable ) and to make it financially sustainable .
An olive grove came up about an hour and a half of my usual stops. Being the olive oil production an old wish of mine, that doesn't require many demands, it excited me. And consequently, the landowner, emigrant that sadly sees the olive trees that their ancestors took care, abandonment, too. I lack the knowledge, but the will is everything and the extraction of knowledge from this genuine people who learned from the wind, from the jagged leaves, is a pleasure. And their will to teach, mutual. As Maria would say, "the hunger gathers with the will to eat."
In the last days of my grandmother, I felt that with her, it would die a lot of knowledge from the land that I couldn't extract, and that the people no longer appreciate. Moreover, the lack of consideration for the elderly scares me. ( The self-destruction (un)conscious as we do with the planet. We ignor what we will be.) For me, knowledge is time, whatever time is spent. Even a drunk knows a lot of his science .
I'm on a train, one of the best places to write, and I appreciate the beauty of this country that deserves better. I come from a weekend spent at a coworker's place whose family also produces olive oil. I tried to learn as much as I could. The father holds a position in a municipalized service, is able to build a quality house, land worker and proud of his trees. Keeps the eyes shinning of a young man. It reminded me of the handymans of Almviks. The lady, an old fashion cooking woman who keeps the house, the garden and the vegetable garden perfect. She never got tired of giving me. I could only defend myself of their infinite offerings justifying with my belly (which is growing). A simple couple, humble workers who weren't lucky with the health of their children. The daughter in a wheelchair and with a certain nervous limitation and their son holding a deficiency in the legs that doesn't allow him to walk balanced. The lady said "God wanted it that way ." But with the land's help and humbleness towards nature, they walk with no financial problems.
I felt as loved again as I did in Thailand, but with no children this time. Instead of rice fields, hills covered with yellow gorse, but the same simplicity. A generosity of which I couldn't answer. These people from the country side, reached my heart and I leave them with the feeling that I have learned much more than olive growing.