domingo, 9 de junho de 2013

Azeitonas e Bondade (Olives and Kindness)


Os seis meses em Lisboa passaram. Vejo muita gente, gente vazia que anda demasiado distraída a tentar ganhar dinheiro a dar nas vistas. Gente que tenta acompanhar sufocadamente um comboio feroz e desalmado. Gente a que não se toca. Vi o suficiente.
Sendo o meu regresso para a linda aldeia de Banguad, ainda muito radical, idealizei uma solução intermédia. Viver em, e de um meio mais rural em Portugal. O regresso à agricultura é algo incentivado, e os terrenos por tratar são uma realidade que evita um investimento na aquisição da terra. A minha luta é a, de uma forma subsistente, transitar do escritório para a lavoura mantendo um futuro financeiro e lúdico atrativo. E ao mesmo tempo, porque não, mostrar uma resposta a tantas almas que vejo partilharem do mesmo sofrimento sem terem, aparentemente, uma solução à vista. Lá vem a minha ideia romântica de comunidade, de dar uma resposta aos problemas do país, do conforto da natureza, da qualidade de vida e felicidade, apenas por mudar a mentalidade, por uma ideia e na forma de arranjar meios de a  levar para a frente. Daí a ideia de trabalhar esses terrenos, de produzir algo de valioso (hoje em dia, o que a natureza nos oferece sem ser alterada para acompanhar o tal comboio desalmado, é extremamente valioso) e de o tornar sustentável financeiramente.
Surgiu um olival a cerca de hora e meia das minhas habituais paragens. Sendo a produção de azeite um desejo antigo, e que não exige grandes cuidados, entusiasmei-me. Consequente, o dono do terreno, emigrante que lhe custa ver as oliveiras que os seus antepassados cuidaram, ao abandono, também. Falta-me o conhecimento, mas a vontade é tudo e a extração do conhecimento desta gente genuína que aprendeu com o vento, com o recortado das folhas, um prazer. E a sua vontade de transmitir recíproca. Como a Maria diria, "junta-se a fome à vontade de comer".
Nos últimos dias da minha avó, sentia que com ela, ia morrer muito conhecimento da terra que não fui capaz de extrair, e que as gentes de agora já não dão valor. Aliás, a falta de consideração pelos velhos assusta-me. (A autodestruição (in)consciente tal como fazemos com o planeta, ignoramos o que iremos ser) Pois para mim, o conhecimento é tempo, seja ele passado como fôr. Até um bêbado sabe muito da sua ciência.

Estou num comboio, dos melhores sítios para escrever, e aprecio a beleza deste país que merece mais.
Venho de um fim-de-semana passado na casa de um colega de trabalho cuja família também produz azeite. Tentei aprender o máximo que pude. O pai, mantém uma posição num serviço municipalizado, é capaz de construir uma casa de qualidade, trabalhador do campo e orgulhoso das suas árvores. Mantém o brilho dos olhos de um jovem. Fez-me lembrar dos homens "faz-tudo" de Almviks. A senhora, uma mulher à antiga que cozinha, mantém a casa perfeita, o jardim e a horta. Não se cansou de me dar. Só me consegui defender das suas infinitas ofertas justificando-me com a minha barriga (que está a crescer). Casal simples, humilde e trabalhador que não foi afortunado na saúde dos filhos. A filha em cadeira de rodas e com uma certa limitação nervosa e o filho mantendo uma deficiência nas pernas que não o permite andar equilibrado. A senhora dizia: "Deus quis assim". Mas com a ajuda da terra e a humildade perante a Natureza avançam sem se notarem dificuldades financeiras.
Voltei-me a sentir tão querido como se na Tailândia estivesse, com a diferença de não haver crianças. Em vez de arrozais, montes cobertos das giestas amarelas, mas a mesma simplicidade. Uma generosidade à qual não soube responder. Esta gente do interior chegou-me ao coração e deixo-os com o sentimento que aprendi muito mais para além da olivicultura.


The six months in Lisbon are done. I see a lot of people, empty people walking too distracted trying to earn money by impressing somehow. People who try to follow suffocatingly a fierce and heartless train. Untouchable people. I've seen enough.
Being my return to the beautiful village of Banguad still too radical, I got an intermediate solution. Live in, and from a more rural place in Portugal . The return to agriculture is supported, and the untreated plots are a reality that avoids an investment in land acquisition. My struggle is, of a sustainable way, move from the office to the plowing keeping an playful and financial future attractive. And at the same time, why not to give an answer to the many souls I see sharing the same suffering without, apparently, having a solution in sight. Here comes my romantic idea of community, to respond to the problems of the country, the comfort of the nature, life quality and happiness, just by changing the mentality, through an idea and how to get the means to carry it on . Hence the idea of ​​working such land, to produce something valuable ( today, what nature offers us without being changed to keep up with the heartless train, is extremely valuable ) and to make it financially sustainable .
An olive grove came up about an hour and a half of my usual stops. Being the olive oil production an old wish of mine, that doesn't require many demands, it excited me. And consequently, the landowner, emigrant that sadly sees the olive trees that their ancestors took care, abandonment, too. I lack the knowledge, but the will is everything and the extraction of knowledge from this genuine people who learned from the wind, from the jagged leaves, is a pleasure. And their will to teach, mutual. As Maria would say, "the hunger gathers with the will to eat."
In the last days of my grandmother, I felt that with her, it would die a lot of knowledge from the land that I couldn't extract, and that the people no longer appreciate. Moreover, the lack of consideration for the elderly scares me. ( The self-destruction (un)conscious as we do with the planet. We ignor what we will be.) For me, knowledge is time, whatever time is spent. Even a drunk knows a lot of his science .

I'm on a train, one of the best places to write, and I appreciate the beauty of this country that deserves better. I come from a weekend spent at a coworker's place whose family also produces olive oil. I tried to learn as much as I could. The father holds a position in a municipalized service, is able to build a quality house, land worker and proud of his trees. Keeps the eyes shinning of a young man. It reminded me of the handymans of Almviks. The lady, an old fashion cooking woman who keeps the house, the garden and the vegetable garden perfect. She never got tired of giving me. I could only defend myself of their infinite offerings justifying with my belly (which is growing). A simple couple, humble workers who weren't lucky with the health of their children. The daughter in a wheelchair and with a certain nervous limitation and their son holding a deficiency in the legs that doesn't allow him to walk balanced. The lady said "God wanted it that way ." But with the land's help and humbleness towards nature, they walk with no financial problems.
I felt as loved again as I did in Thailand, but with no children this time. Instead of rice fields, hills covered with yellow gorse, but the same simplicity. A generosity of which I couldn't answer. These people from the country side, reached my heart and I leave them with the feeling that I have learned much more than olive growing.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Tudo é possível (Everything is possible)

As coisas tornam-se claras. O stress, a inquietação, os problemas... É claro que a natalidade se torna menor nos países mais desenvolvidos. Há menos amor.
Já percebi que não estou só. Pessoas desejam que seja bem sucedido com uma alternativa perto da natureza, da tranquilidade e longe desta desenfreada e cega ambição por vencer num sistema que foi vencido há muito. Há medo. Claro que há medo, das dificuldades, da falta de liberdade financeira. Mas os sinais são demasiados óbvios. Eu sou capaz. Tive o previlégio de conhecer realidades bem diferentes, respostas a sentimentos que não compreendia. Viajar é isso, é conhecer novas formas de ver as coisas, abrir a mente, juntar as peças, para que o todo comece a fazer sentido. A minha viagem não foi um sonho. Aconteceu e marcou-me. É normal que não possa prosseguir da mesma forma. Sei agora mais, e não menos como algumas pessoas aqui me tentam fazer crer. E nisto, o meu primo Ricardo tem razão. Até a ele, lhe posso mostrar que é possível... ou com ele...

Ervilhas da horta urbana / Peas from the urban garden

The things become clear. The stress, the anxiety, the problems ... Of course that the birth rate gets lower on the most developed countries. There's less love.
I have noticed that I am not alone. People want me to be successful with an alternative close to nature, tranquility and away from this unbridled and blind ambition to win in a system that was beaten a long time ago. There is fear. Of course there is fear, of the difficulties, of the lack of financial freedom. But the signs are too obvious. I can do it. I had the privilege of knowing very different realities, answers to feelings I didn't understand. To travel is this, is to know new ways of seeing things, open the mind, put the pieces together, so that all starts to make sense. My trip wasn't a dream. It happened and marked me. It's normal that I can not proceed in the same way. I know more now, and not less as some people here try to make me believe in. And on this, my cousin Ricardo is right. Even to him, I can show that it is possible... or with him...

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Seis meses passaram (Six months have passed)

Passaram dois dias dos seis meses que vivi em Portugal desde que regressei. Há muito que andava de costas viradas para o papel e para mim. Estive um mês e meio a trabalhar num ambiente, que longe de ser perfeito, mantinha-me desafiado e sem muito tempo para pensar. No período anterior e no atual foi tudo incerto e moribundo. A minha mente vagueia de novo em sonhos com a natureza, com subsistir da agricultura, com a paz do calor, com a alegria da gente simples, com o ter tempo suficiente para respirar. As bandas mais depressivas já me vão confortando novamente, o que não é bom sinal. O projeto de treinar futebol não é de todo mau mas apercebo-me que para funcionar tenho de ser mais antipático do que desejaria. Não tenho sequer tempo para me mexer fisicamente ou artisticamente. E o que fazer agora? A única coisa que gosto de estar num escritório oito horas é a recompensa financeira, e em Portugal, já não vai sendo assim tão recompensador. Gosto muito da minha família mas também estão longe das minhas ambições. Talvez me pudessem ajudar a tratar de um espaço rural. Falta-me alguma confiança em mim para ser capaz de levar estes projetos para a frente. Portugal, normalmente tira-me confiança. Ir para fora, pelo contrário. A Tailândia ficou-me sempre como uma porta aberta. Um lugar fácil, onde pessoas me aguardam e poderia satisfazer o desejo de passar um ano a ajudar as crianças e adultos daquela aldeia. Mas preencheria-me tal? Talvez só haja uma forma e o saber.

Ligação do trabalho para...  /  Link from work to...

Two days have passed after the six months I lived in Portugal since I returned. For a long time that I had turned my back to the paper and to myself. I've been a month and a half working in an environment that far from being perfect, kept me challenged and without much time to think. At the earlier period and at the current everything was uncertain and moribund. My mind wanders back into dreams about nature, how to subsist on agriculture, with the warmth's peace, the joy of simple people, with enough time to breathe. The melancholic bands are comforting me again, which is not a good sign. The coach project it's not bad at all but I realize that to work I have to be more unlikable than what I would wish. I don't even have time to express myself artistically or sportively. And what to do now? The only thing I like of being eight hours in an office is the financial reward, and in Portugal, it's not being so rewarding anymore. I really like my family but they are also so far from my ambitions. Maybe they could help me taking care of a rural space. I lack some confidence in myself to be able to take these projects forward. Portugal usually takes that confidence away from me. Going abroad, the opposite. Thailand has got an open door for me, always. An easy place, where people are waiting for me and I could satisfy the desire to spend a year helping children and adults in that village. But would that fulfill me? Maybe there's only one way to know.