quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Deslumbres ( Amazments )

Trânsito do demóin / Traffic hell
Bom dia! O ritmo aqui é outro. O tempo para mim e para a minha organização, é escasso. As coisas sucedem-se. Eventos, encontros, experiências. Enquanto viajava, tinha frequentemente momentos de deslumbre que me enchiam. Recentemente, tive dois momentos desses, aqui em Lisboa. O primeiro, durante uma entrevista numa associação que apoia pessoas com problemas de endividamento. O brilhar de uma pessoa que é feliz no que faz. Que sente que realmente ajuda. E que reviu em mim a sua situação passada. Podia ter sido um filme. Tudo aquilo me tocou muito.
A segunda, numa mostra de documentários realizados por estudantes de uma escola Suiça em que o tema era a actual crise financeira sendo Lisboa o cenário. Uma amiga do João, Julia, também participou e foi com muito orgulho a realizadora do documentário que gostei mais. A nossa tristeza vista por artistas de fora. Muito "cinema francês" de que sou fã. Olhares atentos, preocupados e sempre artístico em temas que nos recusamos a olhar, como a "escravidão" em que se vive, o esquecimentos dos idosos, o abandono de Lisboa, o Intendente,... Foi com alguma tristeza que vi o desconforto, desinteresse de quem estava comigo ao ver os trabalhos. Espíritos muito críticos... Falta de abertura? Demasiada exigência? Estou contente por ter gostado.

João e o nosso lar / João and our place
Good morning! The pace here is different. The time for me and for my organization, is scarce. Things happen. Events, meetings and experiences. While traveling, I often had moments of amazement that filled me up. Recently, I had two of these moments, here in Lisbon. The first, during an interview in an association that supports people with debt problems. The shine of a person who's happy with what is doing. Feeling that can really help. And who saw on my situation her past one. It could have been a movie. I was quite moved by all that.
The second, a showcase of documentaries made ​​by students of a Swiss school which the topic was the current financial crisis having Lisbon as the scenario. A friend of João, Julia, also attended and she was, proudly, the director of the one I liked more. Our sadness seen by outside artists. Much "French cinema" that I am fan of. Watchful, concerned and always artistic eyes, working on matters we refuse to look at, like the "slavery" in which we live, the forgetfulness of the elderly, the abandonment of Lisbon, the Intendente... It was with some sadness that I saw the discomfort, disinterest of whom was with me watching the films. Too critical minds... Lack of openness? Too much demanding? I'm glad I liked it.

Moi / A bit of me

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Estou à procura (I'm looking for)

Estou à procura de sítios onde sair à noite. Socializar. Não de sítios onde se apenas beba e se digam parvoíces. Procuro sítios onde ideias deambulem, projectos se tentam, inspirações se partilham. E porque não a beber um copo? Procuro um sítio onde as pessoas querem fazer coisas. Inovadoras, generosas, sociais. Pessoas que pensam em soluções, que mudam o mundo. Quero participar numa socialização construtiva e não numa de prazer leviano.

Um padrão da cidade /  A city pattern

I'm looking for places to go out at night. Socialize. Not of places that the only things to do are drinking and saying nonsense. I'm looking for places where ideas roam,  projects are attempted, inspirations are shared. And why not with a drink? I'm looking for a place where people want to do things. Innovative, generous, social. People who think of solutions, that change the world. I want to participate in a constructive socialization and not a frivolous pleasure one.

Lustre / Chandelier

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Do que precisas? (What do you need?)

 O crime (com o meu companheiro de apartamento)
The crime (with my flatmate)

O meu dia à dia começou. Está um frio do caraças, mas é bom estar a partilhar a casa com alguém, ver gente variada nas ruas e estar, finalmente, a programar, a área para a qual desejava retornar há muito. O tempo não é muito e ainda estou a rever amigos pós os seis meses. Os hábitos não estão ainda muito rotinados (o que é bom) e Lisboa parece-me ainda uma imensidão por descobrir.
Hoje, ao espelho, tive que me dizer: Não és feio, mas não precisas de ficar tão bonito (influências da Vodafone).
Na rua, as pessoas olham-se de uma forma bem diferente da forma como se olham na Tailândia. Há quem olhe para o chão, sem sequer ousar olhar em frente, há quem olhe na esperança de um olhar de volta, há quem olhe pelo prazer de ver e nada mais que isso, mas já não há o olhar com o sorriso e vontade de comunicar. Ainda assim, tem-me agradado os frequentes momentos de simpatia aleatoriamente encontrados. Apesar dos muitos defeitos que este povo tenha, continua a ser um povo caloroso.
Uma questão tem-me vindo à cabeça: Do que é que precisas? Encontrei no povo tailandês, uma felicidade enorme e eles nem têm a palavra precisar. Para mim, agora, é bastante óbvio que de quanto menos precisares, mais feliz te tornas. A minha mãe é um estranho caso. Não vou aqui colocar a sua felicidade em causa, mas a sua vontade em ter coisas e o sofrimento que sente ao perder uma insignificância, é atroz. Mais uma razão para achar que os viajantes são as melhores pessoas do mundo. Têm pouco e com o pouco que encontram fazem uma festa.
Pessoalmente, e tirando as necessidades fisiológicas, preciso de me sentir útil, ligado ao mundo, rir, partilhar o que sou...

 O Outono na minha terra natal (com o Rui e a Sasha)
The Fall in my hometown (with Rui and Sasha)

My day to day has began. It's cold as hell, but it's good to be sharing a house with someone, seeing different people on the streets and, finally, programming, the area to which I long wanted to return. The time is not much and I still have friends to see after the six months. My habits are not yet in a routine (which is good) and Lisbon is still an immensity to be discovered.
Today, at the mirror, I had to say to myself: You're not ugly, but you don't need to be so tidy (Vodafone influences).
On the street, people look to each other in a quite different way from how they look in Thailand. There are those who look to the floor, without even daring to look ahead, those who're hoping for a look back, those who look for the simple pleasure of seeing and nothing more than that, but not anymore the look with a smile with a willingness to communicate. Still, it has pleased me the frequent moments of sympathy randomly found. Despite the many flaws that people have, we continue to be a warm people.
A question has coming to my mind: What do you need? I found in the Thai people, a huge happiness and they don't even have the word need. For me, now, it's quite obvious that less the need, the happier you become. My mother is a strange case. I won't put her happiness here in question, but her desire to have things and the suffering that she feels when losing a trifle, is atrocious. One more reason to believe that travelers are the best people in the world. They have little and with the little they find, they make a party.
Personally, and not thinking about physiological needs, I need to feel useful, connected to the world, laugh, share what I am...

sábado, 1 de dezembro de 2012

Tenho força (I have strength)

Samouco
Perto da oficina do meu pai / Next to my father's garage
Os dias passam. Nuns algumas coisas acontecem, noutros, nem por isso. Não há, definitivamente, nada de comparável a partilhar. Agora a idéia inverteu-se. Não se trata de pôr a par os meus conterrâneos, mas os amigos que deixei pelo mundo ou aqueles que também deixaram Portugal e ainda não regressaram.
Os momentos de solidão (momento de inspiração), também não têm sido muitos.
Encontrei o país mais afundado numa crise financeira, que quando o deixei. É assunto de lamentos e conversas por todo o lado. Lembro-me das comunidades por onde passei. Das auto-suficientes, do viver com pouco e sorrisos, da humildade. Tenho força.
Estou a ir viver para Lisboa. Vou partilhar um pequeno apartamento com o meu amigo João. Até a internet, parecer ir ser dividida pelos vizinhos. Viver com pouco, em comunidade, entreajuda, partilha de conhecimentos, amor. É a resposta que tenho para este país cinzento, esquecido ao pé do Atlântico, onde a solidão e os esquemas financeiros vêem-se por todo lado. Há pessoas com tanto valor... não merecem ser limitadas pelas condições actuais. O país, a sociedade, precisam de algo. É a minha luta. É o momento.

"I'm only happy by laziness"
Felicidade é simplicidade / Happiness is simplicity

The days pass. On some, some things happen, on others, not really. There isn't, definitely, nothing comparable to share. Now, the idea has reversed. It's no longer about putting my countrymen up to date, but the friends I left around the world or those who also left Portugal and haven't returned yet.
The moments of solitude (moments of inspiration), also haven't been many.
I found the country more sunk in a financial crisis, than when I left. It's a reason of lamentations and conversations everywhere. I remember the communities through which I passed. The self-sufficient ones, the lives with little and smiles, the humility. I have strength.
I'm going to live in Lisbon. I'll share a small apartment with my friend João. Even the internet, seems that will be shared by neighbors. Living with little, in community, helping each other, sharing knowledge, love. This is the answer I have for this gray country, forgotten by the Atlantic, where loneliness and the financial schemes are seen everywhere. There are people with so much value... they don't deserve to be constrained by the current conditions. The country, the society, need something. It's my fight. It's the time.

sábado, 17 de novembro de 2012

Voltar a descobrir (Discovering again)

Sorri / Smile
Foi dia de ir a Lisboa e ver as primeiras casas. Ao apanhar o autocarro no Montijo, perto do bairro onde cresci, onde os meus pais têm a sua casa e eu, a minha, foi bom poder trocar uns gestos de cortesia com um senhor simpático e expansivo que costumo ver por aqueles lados.
Em Lisboa, com o auxílio de um mapa, procurei a primeira casa que tinha visita marcada para as onze (sem me ter lembrado que o João estaria ocupado de manhã). A subida foi cansativa, mas lá, já perto do prédio, fui compensado com uma bela vista de Lisboa. Entrei, e a porteira, uma daquelas senhoras que fala por tudo  e por nada, mostrou-me a casa e pôs-me ao corrente de tudo.
Nas traseiras, uma horta considerável chamou-me a atenção, e dadas as áreas, a luz e as vistas, sentia-me satisfeito. Via-me a viver ali e a conversa com o senhor que trata da horta, que também viajou muito quando era mais novo, ajudou a sentir o espírito bairrista, que encontrava também ser possível, ali.
Bebi um café no sítio mais próximo e investiguei os arredores onde encontrei mercearias, talhos, uma vista espetacular para o Castelo e o Tejo, um supermercado e umas piscinas. Senti-me novamente a descobrir, entusiasmado com esta nova aventura a que me propús. Lisboa.



It was day to go to Lisbon and visit the first houses. When waiting to take the bus in Montijo, near the neighborhood where I grew up, where my parents have their house and I, mine, it was good to exchange a few gestures of courtesy with a friendly and expansive mister that I usually see around that place.
In Lisbon, with a help of a map, I searched the first house that was scheduled to eleven a.m. (I forgot that João would be busy in the morning). Getting up there was tiring, but there, close to the building, I was rewarded with a beautiful view of Lisbon. I entered, and the portress, one of those ladies who can't stop talking, showed me the place and put me up to everything.
In the back, a beautiful garden caught my attention, and given the areas, the light and views, I felt satisfied. I saw myself living there and the conversation with the man who takes care of the garden, which also traveled a lot when he was younger, helped me to feel the parochial spirit, which I also found be possible, there.
I drank a coffee in the nearest place and investigated the surroundings where I found grocers, butchers, spectacular views of the Castle and the Tagus, a supermarket and a swimming pool. I felt discovering again, enthusiastic about this new adventure that I set. Lisbon.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Civilização? (Civilization?)

O bairro / The neighborhood
Escrever, para mim, sempre teve um efeito terapêutico, aliás, como qualquer outra arte. E mesmo na Tailândia, onde me senti muito feliz, tive momentos em que a escrita me ajudou a desbloquear, a pôr a cabeça no sítio e a seguir mais leve. Também atenua o sentimento de solidão, pois estamos a dirigirmo-nos a alguém.
No sábado à noite, jantei com malta chegada, e há coisas que não mudam. Os copos não são surpresa, mas a forma acesa como o pessoal fica, é que já não estava habituado. As conversas extensas e embrulhadas, as intransigências. Consegui, após muita luta, não ir à Timília das Meias, sítio com tão más memórias.
Num dia desta semana, esperava pelo meu irmão, sentado no passeio e acompanhado pela Maggie. Reparava como nem um bocadinho de solo tinha sido deixado à arte da natureza. Alcatrão, passeio, relva. Tudo projectado, nada deixado ao acaso.
Uma senhora avantajada passava, com dificuldade, apoiando-se em duas muletas. Vinha a falar ou praguejar sozinha. Porquê? Que vida tiveste tu? Que te aconteceu para chegares a isto?
O meu irmão apareceu, e levou-nos para um café.

Sentado no passeio / Sitting on the sidewalk


Writing, for me, always had a therapeutic effect, in fact, like any other art. Even in Thailand, where I felt very happy, I had moments where the writing helped to unblock myself, to put my head on the right place and to proceed, lighter. It also lessens the feeling of loneliness because we address ourselves to someone.
On Saturday night, I had dinner with some close guys, and there are things that don't change. The drinking isn't surprising, but the way they get lit, it's something I was no longer used to. The extensive and confusing conversation, the intransigence. I managed, after a big struggle, not to go to Timília das Meias, place with such bad memories.
On one day of this week, I was waiting for my brother, sitting on the sidewalk and accompanied by Maggie. I was noticing that not even a little piece of ground had been left to the art of nature. Tar, pavement, grass. All designed, nothing left to chance.
A stout lady was slowly passing by, leaning on two crutches. She was talking or swearing alone. Why? What kind of life have you had? What happened to you to get to this?
My brother came and took us to for a coffee.


domingo, 11 de novembro de 2012

Primeiros sinais de depressão (First signs of depression)

Há três dias em Portugal, começo a sentir os primeiros sinais de depressão.
Vi ainda poucos amigos, alguns com mais excitação que outros. Até aqui, o Hermano foi quem mais sumo tirou de mim, foi óptimo saber que o João está a fim de ir morar comigo para Lisboa, mas muita da porcaria continua aqui. Está um gelo do caraças, conversas que não tinha saudades, continuam a vaguear e hábitos sujos misturam-se com os ambientes cinzentos. Já não há sorrisos e a senhora da caixa do Lidl parecia uma máquina a atender-me. Senti-me como uma peça numa linha de montagem.
Ao pedir um café, uma criança atende-me e sinto novamente um brilho numa interacção. É por aqui. É por aqui que tenho de caminhar.



After three days being in Portugal, I start to feel the first signs of depression.
I only saw a few friends, some with more excitement than others. So far, Hermano was the one who more juice took out of me, it was great to know that João is willing to live with me in Lisbon, but a lot of shit is still here. It's cold as hell, conversations that I didn't miss, continue to roam and dirty habits mix with gray environments. There are no longer smiles and the cashier of Lidl seemed a machine attending me. I felt like a part on an assembly line.
When ordering a coffee, a child attends me and I feel a glow from an interaction again. This is the way. This is the way I should go.